segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O POLÍTICO E A DROGA

Mães que acorrentam seus filhos em casa para que os mesmos não se droguem ou sejam mortos por traficantes. Seres humanos andando pelas ruas iguais a “zumbis”, mal cheirosos, pele ressecada, em couro e osso, pelos estragos causados por uso do crack - a droga que cada dia mais tem levado mulheres para as ruas, abandonando pai,mãe e filhos para viverem entregues neste submundo de solidão, crime e castigo. Crianças, adolescentes e adultos perdidos numa “viagem' sem volta. Estão doentes a espera da morte anunciada.
De quem é a culpa? Quem poderá tirá-los deste inferno? Por quê eles? O que buscam? O que lhes falta? O que podemos fazer? Onde o Estado entra nesta história?
Duvido que, no passado, algum vidente ou profeta tenha previsto ou imaginado que hoje a droga seria causa de tantos lares dissipados, tantos jovens mortos, tanta dor, tanto caos.
Da mesma forma seria impossível imaginar que este mesmo mal seria usado hoje como trampolim, por alguns políticos inescrupulosos que insistem no discurso vazio de que encontraram a salvação para a “cura” dos milhares de “enfermos” espalhados pelo nosso país. Que bom seria se fosse verdade, mas não é. Na prática, os discursos de hoje querem atingir os parentes e alguns segmentos da sociedade que vivenciam de perto o problema. Não é dirigido aos usuários, pois estes, em sua maioria, nem votam, pois há tempos perderam o sentido da palavra cidadania. São discursos em busca de voto.
Ninguém que tenha presenciado ou vivenciado o martírio de uma pessoa usuária de drogas e seus familiares acreditaria nestas falácias eleitoreiras. É verdade que alguns até fazem algum esforço pelo social. E, para por aí. Fazem pelo social, ou melhor dizendo, fazem como se fizessem um afago nos excluídos, ou ainda, uma massagem no próprio ego para serem elogiados por tal feito. Temos exemplos de instituições que atendem usuários de drogas como se os recebessem em hotéis de luxo, tamanha a quantia que cobram para manter estas pessoas longe da sociedade. E, pasmem, muitas são instituições de cunho religioso, onde deveria prevalecer a boa vontade, o desapego material e o amor ao próximo. Sorte daqueles que podem pagar o preço desta reabilitação. São poucos, até porque estas instituições atendem, geralmente, um número muito pequeno de pessoas.
E o que fazemos com os excluídos? O que o Estado faz para resolver o problema das drogas nas periferias onde a estatística já provou ser o local de maior foco de usuários, onde cada dia mais aumenta a prostituição, o tráfico e a violência?
É evidente que reconheço que o Estado através do Sistema Único de Saúde tenta amenizar a situação com os hospitais psiquiátricos e os Centros de Atenção Psicossocial para Usuários de Álcool e Outras Drogas, os CAPS-ad, que comprovadamente não tem atendido a demanda da população. A questão do atendimento de usuários de drogas em hospitais psiquiátricos é ainda mais preocupante. É claro que o usuário de entorpecentes tem sua saúde mental afetada mas não poderia jamais ser internado no mesmo lugar utilizado para atendimento ao usuário com transtorno mental de causas diversas. O drogadito não pode mais ser tratado como um “louco” pois o problema vai muito além disso.
Existe, ainda por parte do Estado, o esforço diário dos policiais no combate ao tráfico de entorpecentes, que sabemos também está muito distante de possuir o sistema de segurança pública mais eficaz, por tanta precariedade de recursos humanos e de estrutura física nas delegacias e secretarias de segurança espalhadas neste nosso país das desigualdades. E, pior ainda quando sabemos que alguns policiais moradores das mesmas periferias que traficantes se sentem ameaçados e coagidos, o que os impedem de cumprirem o seu dever. Mas, moram ali por não possuírem condições financeiras que lhes garantam uma moradia digna por causa dos salários defasados, ou seja, mais uma tarefa para o Estado. Outra questão diz respeito aos policiais que por falta de dinheiro ou de caráter passam para o lado do inimigo fazendo o papel de servidor de Deus e do Diabo. Exceções à parte.
Todos sabemos que para resolver o problema dos dependentes químicos é preciso investir fortemente no combate ao tráfico, trabalho que precisa ser pensado além do território nacional, utilizando serviço de inteligência para coibir a ação de traficantes internacionais. Fiscalização constante nas fronteiras, aeroportos, terminais rodoviários e estradas.
Atualmente é fácil ligar a televisão, abrir o jornal e se deparar com um político ou gestor se vangloriando de feitos em prol dos usuários de drogas. Inútil querer me convencer que existe apenas boas intenções por trás dos pequenos gestos humanitários daqueles que deveriam realizar feitos grandiosos em benefício da população. O político bem intencionado pensa grande. Pensa na coletividade. E, por assim dizer, pensa em soluções concretas e realizáveis baseadas em estudo técnico sério, através de programas sociais que contemplem todo cidadão. E, para isso, os políticos e gestores públicos devem ser comprometidos com a responsabilidade pública, social e ética. Infelizmente quase sempre não é isso que acontece.
Não condeno apenas os políticos pelo descaso com a situação atual. A sociedade é cúmplice deste crime. Estado e sociedade são ambos responsáveis pelo estabelecimento da ordem pública. Parece que a modernidade não permite mais que os homens fiquem indignados diante da situação alheia. A vida miserável do usuário de drogas que perambula pelas ruas é aceita como algo natural pelos seus 'semelhantes'. Trata-se de tolerância da exclusão visto que aceita a existência de outros seres humanos vivendo de forma desumana, miserável e degradante. Tolerar significa aqui fechar os olhos para a nossa responsabilidade enquanto seres humanos e cidadãos.
Se nada podemos fazer isoladamente, que ao menos seja permitido nos indignar e chamar a atenção daqueles que podem e devem fazer o que for preciso para solucionar o caos estabelecido. Muitos dirão que “se cada um fizer a sua parte” teremos solução. Não creio. Esta máxima deve servir quando falamos em meio ambiente, lixo e reciclagem, mas estamos falando de vida, de milhares de pessoas que perderam o rumo e pedem socorro imediato e com duração a longo prazo.
O Estado, no âmbito nacional, estadual e municipal, deve ser responsabilizado pela ausência de políticas públicas em conjunto com vários segmentos, entre eles, saúde, educação, segurança e ação social, que atendam a necessidade atual. Um projeto nacional grandioso que inclua profissionais capacitados, atendimento em local apropriado com estrutura física adequada e equipe multidisciplinar, e mais, que seja gratuito. E, novamente irão me dizer que isso já existe. Concordo. No papel existe, assim como tantos regulamentos, leis, decretos e outros projetos que não passam de engodo para fazer de conta que está tudo certo. É justamente neste ponto que a sociedade entra para fiscalizar e cobrar do Poder Público para que ao menos cumpram aquilo que preconiza os documentos legais já existentes. Daí a necessidade de representantes da sociedade no legislativo, para que os mesmos possam defender os interesses do povo, e entre eles estão os milhares de usuários de entorpecentes espalhados pelo país. Mas, parece que isso não interessa aos políticos que hoje dizem carregar a bandeira dos drogaditos já que estes, na prática, dão muito trabalho e pouco voto. E, isso sim, é uma droga!


Cláudia Maia
Setembro/2010

2 comentários:

  1. Sabia que erstou me sentindo aliviada por não ter que votar??Vou justificar meu voto e acho que não vou transferir de propósito. Assim pelo menos não me aborreço tanto. Cansei de ser politizada..rsrsrsrs

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  2. Kau..postei como anônimo..rsrsrsrs
    Bjus da Rê

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